quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Para 2015!

Os últimos dias dos meses de Dezembro são sempre de retrospectiva do ano que finda e de formulação de desejos e resoluções para o ano que se aproxima.

A retrospectiva tem pouco que se lhe diga. Foi-se a troika, mas ainda não sabemos quanto tempo mais estaremos e seremos troikados. Foi um ano menos saudável. Mas foi um ano com melhor trabalho. Faltaram algumas coisas. Pouco interessa para aqui.

Interessa mais o ano de 2015. Não se pode fazer muito relativamente ao ano que passou. Para 2015, desejo mais tempo. Mais tempo para gozar o tempo. Melhor tempo. Menos tempo perdido. Que o tempo não tenha sido perdido. Que nos deixem descansar, que nos deixem respirar, recuperar do sufoco. Quero que as minhas ucronias deixem de o ser. Não muitas: só duas.

No próximo ano, espero sentir que governamos quem nos governa. Espero que não sejam colhidas laranjas azedas nem rosas murchas e com mais espinhos do que pétalas; que as setas apontem para o alvo certo; que a foice não seja metida em seara alheia e que o martelo não bata senão em pregos; que a estrela não seja um buraco negro; que a papoila não cause euforias ou hipnotismos.

Espero que, nos próximos doze meses, tudo o que seja dourado reluza e tenha valor, mas que não encandeie. Espero sentir-me menos detido do que alguns detidos; menos afundado; menos rico que certos leopardos.

Em 2015, espero ter a certeza que vou, que vamos, passar bem em 2016.

Feliz ano novo!



segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Eu acredito em António Costa!

António Costa apareceu, como líder do seu partido, numa aura de um político diferente de todos os outros. Um salvador, alguém capaz de apagar todo o mal causado pelos partidos antagonistas do seu e pelo seu próprio partido.

Neste fim-de-semana, eu vi que tal epíteto é justificado. António Costa, após algumas semanas sem concretizar uma única ideia de governação, manifestou-se relativamente à TAP.

Sendo a privatização da TAP um assunto constante dos dossiês do Executivo, o actual líder da autarquia lisbonense afirmou, dando a entender ser contra o modelo de privatização anunciado para a companhia, que a TAP "é tão importante, hoje, para Portugal como foram, no século XIV, as caravelas".

As caravelas foram equipamentos absolutamente essenciais para a época conhecida como os Descobrimentos. Esta época ocorreu entre os anos 1415 (ou 1418, já que Ceuta foi uma conquista, não uma descoberta) e 1543. Sendo que o século I compreendeu os anos 1 a 100, o século XIV teve como limites 1 de Janeiro de 1301 e 31 de Dezembro de 1400.

O maior impulsionador dos Descobrimentos, o Infante D. Henrique, já tinha seis anos no fim do século XIV, mas duvido que, por essa altura, ele imaginasse todo o mundo de possibilidades que aquele conjunto de tábuas de madeira lhe poderiam proporcionar. 

Eu deixei de duvidar da imparidade de António Costa. António Costa não mente. Para ele, a TAP tem a importância nacional que tiveram as caravelas muito antes de elas terem partido para o desconhecido e de trazerem para o nosso país tantas riquezas. Imagino que, para ele, o futebol tenha a mesma importância que os gladiadores e o circo romano tiveram há cinquenta mil anos; que o euro tenha a mesma importância que o escudo teve no século II.

Eu só espero que, seja António Costa primeiro-ministro ou outro qualquer, daqui a um ano, eu não tenha, para o Governo, a mesma importância que tiveram os meus saudosos avós no século XVII.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Voltas

Depois de uma volta completa,
que nunca apontou a direcção certa,
sempre a ter mais e ser menos do que queres,
sem poder tapar-me nem destapar-me de ti,
tão certo como não poder haver vales sem montes,
o inefável peso do vazio esmaga
e detalha todo o desconhecido,
como se o sonhado fosse o vivido.


Sonho que faz das palavras oculares
ter a pele que osculares
e os braços como teus colares,
após uma volta concreta,
num abraço que tudo desaperta,
ter tanto quanto e ser tudo o que queres,
tapar-me e não mais me destapar de ti.