Na última semana de campanha paras as eleições europeias,
tidas pela opinião pública como as mais importantes de sempre, houve várias
declarações surpreendentes.
A primeira veio da Alemanha, mais propriamente proferida por
Frau Merkel, dizendo que já tem em preparação a constituição do próximo
Executivo da Comissão Europeia.
Merkel afirma que as eleições, que se aproximam rapidamente, não têm que ser tidas em conta, como ficou plasmado no Tratado de Lisboa, um dos mais recentes a ser ratificado pelos Estados-membros da União Europeia, para a escolha do(a) próximo(a) Presidente da Comissão Europeia.
Em seguida, foi anunciado que o mesmo Governo pretende
expulsar os imigrantes que não tenham emprego, passados poucos meses da sua
chegada ou após o terem perdido.
Seguiu-se Monsieur Nicolas Sarkozy. Pretende o ex-Presidente
francês que a União Europeia deixe de considerar todos os seus membros como
iguais entre si, em direitos e deveres, que seja estabelecido um directório
franco-alemão (será mais germânico-francês) e abolir o espaço Schengen,
limitando, com isso, a imigração no território francês.
É verdade que, em termos práticos, os Estados-membros não
são iguais entre si, na União Europeia. E eu sou apologista que as coisas e
situações devem ser identificadas e classificadas exactamente tal como elas
são. Mas a solução não é oficializar essa diferença; a solução é criar as
condições e estruturas para que as nações se relacionem e definam os destinos
europeus de forma igualitária entre si.
Numa altura em que a credibilidade das instituições
governativas europeias anda pelas ruas da amargura e que, cada vez mais, se
questiona porque não são os cargos mais importantes e decisores submetidos a
sufrágio universal, chega-nos a informação oficial de que as eleições e os
tratados apenas são consequentes se forem de encontro ao que determinados
membros do Conselho Europeu pretendem. É uma repetição da situação criada
aquando dos referendos sobre a Constituição Europeia: realizavam-se até o “sim”
sair vencedor. Isto não é democracia, isto não é representatividade.
Relativamente à questão da imigração, Sarkozy, esse senhor,
que, quem o ouvir, até pode pensar que é oriundo das mais antigas famílias
gaulesas, esquece-se que os seus progenitores foram obrigados a sair do seu
país de origem, a Hungria, onde pertenciam à aristocracia e tinham uma vida
confortável, após a expropriação dos seus bens pelo regime soviético que se
seguiu à II Guerra Mundial. Lutaram, e bem, pela vida e acabaram por ver os
franceses a concederem à sua família condições de subsistência e crescimento. O
que seria hoje deste senhor se a sua família tivesse sido impedida de se
radicar em França?
Também no Reino Unido sopram ventos desagradáveis. Tentando
conquistar o eleitorado insatisfeito com Bruxelas, Mr. David Cameron ameaça com
um referendo à continuidade das terras de Sua Majestade na União Europeia. É
verdade que vários políticos ingleses já, por várias vezes, fizeram alusão a
esta possibilidade. Mas nunca de forma tão peremptória. A razão é simples: o
primeiro lugar nas sondagens para o próximo escrutínio é ocupado pelos
nacionalistas do UKIP.
Não é surpresa o anúncio de sondagens com previsões de uma
elevada votação em partidos extremistas por essa Europa fora. O que é
surpreendente é ver de representantes de partidos, tidos como moderados e
integracionistas, tamanho apoio e promessas de medidas xenófobas e contrárias
aos ideais que serviram de base à construção europeia e que, entre outras
coisas, valeu à UE um, para mim injustificado, Prémio Nobel da Paz.
Eu posso compreender que a insatisfação possa desencadear
sentimentos xenófobos em algumas pessoas e que estas se juntem e formem grupos
ou partidos que defendam aquilo em que acreditem. Não concordo em nada com
eles, mas percebo que isso possa suceder. O que não percebo, e penso ser ainda
muito mais perigoso, é ver estas e outras figuras políticas de relevo
defenderem posições e ideais contrários à sua consciência e aos seus próprios
partidos. Porque se um eleitor moderado já se incomoda e começa a insurgir
contra promessas não cumpridas, o que fará um eleitor extremista ao ver, no seu
país, que um imigrante continua a ter mais apoio social e emprego do que ele,
apesar das promessas feitas por um partido que vence as eleições e se
posiciona, politicamente, perto do centro? Isto é um barril de pólvora!
Já por várias vezes afirmei que esta União Europeia não é
uma união, por ter as suas fundações mais frágeis do que as da Baixa Pombalina.
O que existe é uma Agremiação Europeia. A União Europeia, tal como está, não
serve ao eixo franco-alemão, não serve aos PIGS e não serve aos escandinavos.
Mas quem está a destruir a Comunidade são aqueles que mais poder de decisão e
influência têm. Pois bem, comecemos por satisfazer Monsieur Sarkozy. Que a
União Europeia seja constituída já amanhã pela Alemanha e pela França. Até
deixo aqui já duas sugestões para a sua moeda: o Manco ou o Fraco. Juntem-se os
PIGS, que têm interesses comuns, e junte-se a eles quem achar por bem e quiser
uma verdadeira União. Que barco vencerá a corrida? Um com quatro ou cinco
remadores a remarem para o mesmo lado ou outro com vinte e oito, remando seis
para um lado, oito para outro, dois para outro e os outros doze a olhar?