terça-feira, 27 de maio de 2014

Europa - a Bela Adormecida

A Europa saiu das últimas eleições para o Parlamento Europeu a iniciar um pesadelo. Os resultados mostraram uma grande queda dos partidos mais moderados e uma invasão de um dos castelos do Velho Continente por parte de partidos extremistas. Estes foram até mesmo vencedores dos plebiscitos em alguns dos Estados-membros com manifestamente mais poder de decisão no seio da Europa.

O que me inquieta realmente é que estes resultados eram mais do que uma ameaça: eram absolutamente esperados. Os dirigentes europeus ignoraram todos os sinais transmitidos pelas várias sociedades europeias. Acomodaram-se e confiaram num bom senso que já pouco existe no continente. Esqueceram-se que os extremistas são quem mais se move, quem mais vai atrás dos seus ideais. Ou seja, os partidos extremistas beneficiaram de ter uma grande percentagem dos seus apoiantes a ir às urnas, ao contrário daqueles que defendem acções e ideais mais moderados e integracionistas. Os dirigentes europeus continuam a não querer perceber o verdadeiro significado da evolução das taxas de abstenção que se verificam nestas eleições - sempre elevadas e sempre a recrudescer. Estas pessoas não votam porque não se sentem representadas, não votam porque não se sentem ouvidas, não votam porque os dirigentes europeus decidem os seus destinos à revelia, em reuniões à porta fechada.

Envenenada por uma ilusão após o pesadelo da II Guerra Mundial, a Europa deitou-se e adormeceu. Foi crédula e, ingenuamente, ingeriu-a. Agora dorme e volta a ter maus sonhos. Depois da crise económica, é assustada com o monstro da crise política. Os vários candidatos a príncipe encantado ficaram, durante estes anos, no castelo apenas a admirá-la, tímidos, demasiado tímidos. Esperemos que agora, ao ver a face aterrorizada da Bela Europa Adormecida, algum príncipe (ou princesa) faça o que é esperado e necessário: que a beije apaixonadamente, que ela acorde e que vivam(os) felizes para sempre!

quinta-feira, 22 de maio de 2014

(Des)união europeia

Na última semana de campanha paras as eleições europeias, tidas pela opinião pública como as mais importantes de sempre, houve várias declarações surpreendentes.

A primeira veio da Alemanha, mais propriamente proferida por Frau Merkel, dizendo que já tem em preparação a constituição do próximo Executivo da Comissão Europeia.

Merkel afirma que as eleições, que se aproximam rapidamente, não têm que ser tidas em conta, como ficou plasmado no Tratado de Lisboa, um dos mais recentes a ser ratificado pelos Estados-membros da União Europeia, para a escolha do(a) próximo(a) Presidente da Comissão Europeia.


Em seguida, foi anunciado que o mesmo Governo pretende expulsar os imigrantes que não tenham emprego, passados poucos meses da sua chegada ou após o terem perdido.


Seguiu-se Monsieur Nicolas Sarkozy. Pretende o ex-Presidente francês que a União Europeia deixe de considerar todos os seus membros como iguais entre si, em direitos e deveres, que seja estabelecido um directório franco-alemão (será mais germânico-francês) e abolir o espaço Schengen, limitando, com isso, a imigração no território francês.


É verdade que, em termos práticos, os Estados-membros não são iguais entre si, na União Europeia. E eu sou apologista que as coisas e situações devem ser identificadas e classificadas exactamente tal como elas são. Mas a solução não é oficializar essa diferença; a solução é criar as condições e estruturas para que as nações se relacionem e definam os destinos europeus de forma igualitária entre si.

Numa altura em que a credibilidade das instituições governativas europeias anda pelas ruas da amargura e que, cada vez mais, se questiona porque não são os cargos mais importantes e decisores submetidos a sufrágio universal, chega-nos a informação oficial de que as eleições e os tratados apenas são consequentes se forem de encontro ao que determinados membros do Conselho Europeu pretendem. É uma repetição da situação criada aquando dos referendos sobre a Constituição Europeia: realizavam-se até o “sim” sair vencedor. Isto não é democracia, isto não é representatividade.

Relativamente à questão da imigração, Sarkozy, esse senhor, que, quem o ouvir, até pode pensar que é oriundo das mais antigas famílias gaulesas, esquece-se que os seus progenitores foram obrigados a sair do seu país de origem, a Hungria, onde pertenciam à aristocracia e tinham uma vida confortável, após a expropriação dos seus bens pelo regime soviético que se seguiu à II Guerra Mundial. Lutaram, e bem, pela vida e acabaram por ver os franceses a concederem à sua família condições de subsistência e crescimento. O que seria hoje deste senhor se a sua família tivesse sido impedida de se radicar em França?

Também no Reino Unido sopram ventos desagradáveis. Tentando conquistar o eleitorado insatisfeito com Bruxelas, Mr. David Cameron ameaça com um referendo à continuidade das terras de Sua Majestade na União Europeia. É verdade que vários políticos ingleses já, por várias vezes, fizeram alusão a esta possibilidade. Mas nunca de forma tão peremptória. A razão é simples: o primeiro lugar nas sondagens para o próximo escrutínio é ocupado pelos nacionalistas do UKIP.

Não é surpresa o anúncio de sondagens com previsões de uma elevada votação em partidos extremistas por essa Europa fora. O que é surpreendente é ver de representantes de partidos, tidos como moderados e integracionistas, tamanho apoio e promessas de medidas xenófobas e contrárias aos ideais que serviram de base à construção europeia e que, entre outras coisas, valeu à UE um, para mim injustificado, Prémio Nobel da Paz.

Eu posso compreender que a insatisfação possa desencadear sentimentos xenófobos em algumas pessoas e que estas se juntem e formem grupos ou partidos que defendam aquilo em que acreditem. Não concordo em nada com eles, mas percebo que isso possa suceder. O que não percebo, e penso ser ainda muito mais perigoso, é ver estas e outras figuras políticas de relevo defenderem posições e ideais contrários à sua consciência e aos seus próprios partidos. Porque se um eleitor moderado já se incomoda e começa a insurgir contra promessas não cumpridas, o que fará um eleitor extremista ao ver, no seu país, que um imigrante continua a ter mais apoio social e emprego do que ele, apesar das promessas feitas por um partido que vence as eleições e se posiciona, politicamente, perto do centro? Isto é um barril de pólvora!


Já por várias vezes afirmei que esta União Europeia não é uma união, por ter as suas fundações mais frágeis do que as da Baixa Pombalina. O que existe é uma Agremiação Europeia. A União Europeia, tal como está, não serve ao eixo franco-alemão, não serve aos PIGS e não serve aos escandinavos. Mas quem está a destruir a Comunidade são aqueles que mais poder de decisão e influência têm. Pois bem, comecemos por satisfazer Monsieur Sarkozy. Que a União Europeia seja constituída já amanhã pela Alemanha e pela França. Até deixo aqui já duas sugestões para a sua moeda: o Manco ou o Fraco. Juntem-se os PIGS, que têm interesses comuns, e junte-se a eles quem achar por bem e quiser uma verdadeira União. Que barco vencerá a corrida? Um com quatro ou cinco remadores a remarem para o mesmo lado ou outro com vinte e oito, remando seis para um lado, oito para outro, dois para outro e os outros doze a olhar?

domingo, 11 de maio de 2014

A Europa aqui tão perto

Há cerca de seis semanas, listei os meus desejos para a campanha eleitoral para os lugares no Parlamento Europeu. A campanha começará oficialmente amanhã. Na pré-campanha, eles não me foram regalados. Sê-lo-ão nas próximas duas semanas? Fica aqui o rol.


"As próximas eleições para o Parlamento Europeu são já daqui a dois meses. Escassos dois meses, o que significa, em Portugal, estarmos já em pré-campanha eleitoral. Mais ainda, até, por serem já conhecidos os cabeças-de-lista das forças políticas que, habitualmente, são mais votadas.

É inegável que estas são as eleições europeias mais importantes desde que os lugares em Estrasburgo são plebiscitados. E, por isso, todos os tempos de antena não serão de mais para se debater o que realmente importa. Mas serão de mais se abordarem temas que nunca farão parte da ordem de trabalhos no hemiciclo cianótico.

Nestas eleições, não quero ver discutido um compromisso entre a São Caetano à Lapa, o Largo do Rato e o Largo Adelino Amaro da Costa para os próximos cinco ou dez anos; quero saber como se podem concertar esforços entre os países mais afectados pela crise na UE. Não quero ver pleiteados os cortes nas pensões ou o aumento das taxas moderadoras ou das contribuições para a ADSE; quero ver debatidos fundos para a criação de emprego na Europa. Não quero ver abordada a Reforma do Estado já feita ou por fazer; quero ver idealizada a reforma das instituições europeias. Neste sufrágio, não quero fazer uma avaliação ao actual Governo Português; quero estar apto a escolher o próximo presidente da Comissão Europeia. Não quero ver os partidos da esquerda portuguesa dirimirem-se entre si por incapacidade de concertação; pretendo ver denodados anseios em impedir o evidente recrudescimento de forças extremistas.

O termo "União" desta União Europeia é apenas um epíteto. As suas fundações são mais frágeis do que as da Baixa Pombalina. Comecemos agora a reforçá-la. Reforçá-la ou demoli-la, consoante o que cada um de nós acredita ser o melhor para si e para a comunidade onde se insere. Mas cinjamo-nos ao que está realmente em discussão. Escolhamos os nossos representantes de acordo com as capacidades que terão no local que irão ocupar. A divergência relativamente aos temas que interessam directamente para os boletins de voto de 25 de Maio será tão perniciosa quanto a divergência entre os Estados-membro da UE."

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Treinador ao lado

A minha inquietude que se segue é futebolística. E apenas cingida ao meu clube.

Sendo inegável que a época 2013/2014 já terminou no reino do Dragão, penso que faz todo o sentido começar o primeiro jogo da pré-época de 2014/2015, logo contra o campeão em título, já com o treinador escolhido.

Era para mim evidente que o treinador não poderia ser Luís Castro. É verdade que, quando este assumiu o comando da equipa principal, não se lhe podia, em perfeito juízo, pedir a revalidação do título nacional. Mas pedia-se mais, muito mais, na Taça de Portugal e na Liga Europa. Não é o único responsável pelo insucesso da equipa, mas não foi capaz de tirar dela tudo o que esta podia dar.

Assim, era urgente escolher o treinador seguinte. Fosse eu presidente da SAD e o perfil do técnico teria de ir ao encontro dos seguintes requisitos:

  • estrangeiro (conhecedor da história e da responsabilidade do clube, mas com conhecimento reduzido dos jogadores do plantel, de modo a não se deixar influenciar por "intocáveis");
  • cerca de meia dúzia de competições conquistadas, ou seja, saber e querer jogar para ganhar, mas querer ganhar ainda mais, não vir para o clube já com estatuto elevado para uma possível reforma dourada;
  • experiência razoável na Liga dos Campeões, tendo já ultrapassado algumas vezes a fase de grupos.
Há, certamente, vários nomes que encaixam nesta curta lista. Os meus favoritos seriam, por ordem decrescente: Simeone; Gus Hiddink, Jurgen Klopp e André Villas-Boas (este não cumpre todos os requisitos, bem sei, mas estou convencido que voltaria a ter sucesso rapidamente no clube). Julen Lopetegui não é quem o clube precisa. Espero estar enganado, e cá estarei para o reconhecer se isso acontecer, mas não auguro um bom futuro imediato.

Lopetegui nunca jogou a Liga dos Campeões. Lopetegui nunca esteve num local onde, durante todos os dias da época, tivesse que estar sempre a pensar em terminar, no final, no primeiro lugar. Lopetegui nunca esteve num clube onde tivesse que pensar em vencer três ou duas competições na mesma época. Lopetegui nunca esteve num local onde tivesse que controlar alguns vedetismos ou desempenhos poupados de jogadores a pensar em jogos das suas selecções. Lopetegui é um vencedor comprovado em competições de selecções jovens. Nada mais. Uma coisa é reunir algumas vezes um grupo de miúdos que se vão destacando durante a sua formação, outra é estar diariamente com jogadores feitos.

A SAD do Porto tem que parar de pensar em conseguir maiores-valias com os treinadores do clube. O FC Porto, mais do que nunca, precisa de um treinador "de peso", experimentado, que mande no plantel por dentro e o defenda por fora. E isso custa dinheiro. Mas, para fazer dinheiro, é preciso gastar dinheiro. Um André Villas-Boas aparece uma ou talvez duas vezes numa vida. Mas o FC Porto, se quiser continuar a vencer, não pode passar a vida a procurá-lo novamente!


segunda-feira, 5 de maio de 2014

It’s not clean, it’s dirty and it stinks! Some better DEO, please!

Em menos de uma semana, o Governo de Portugal apresentou o Documento de Estratégia Orçamental (DEO) para os anos 2014-2018 e a solução adoptada para a saída o período que se segue ao programa de resgate financeiro.

Foram duas ocasiões em que os nossos governantes ousaram ludibriar, novamente, os portugueses.

A primeira ocasião foi a apresentação do DEO para os próximos quatro anos. Acreditar que este documento tenha sido estudado, pensado, preparado, elaborado e aprovado sem já ter sido definida a solução para a saída do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro é pura ingenuidade. E não chamar aumento de impostos ao aumento da taxa de IVA e da TSU é de um descaramento atroz.

A segunda foi ao anunciar que, com o fim do programa, o país reganharia as suas soberania e autonomia financeira, que seria dono do seu destino.

Relativamente ao DEO, não sou o cidadão mais indicado para o questionar. As minhas noções de Economia e do estado das finanças públicas são pouco mais que nulas. Mas, ao lê-lo, o meu receio relativamente o futuro agudizou-se. Ver como pressupostos para o documento os valores estimados da evolução do custo do barril de petróleo (no mercado de Brent) e do câmbio entre o euro e dólar que são apresentados fazem-me duvidar que a economia portuguesa atingirá os objectivos previstos. Como é possível pensar que o preço do barril de petróleo irá progressivamente baixar, até 2018, até cerca de 88 dólares? Ainda por cima, tendo em conta todos os conflitos actualmente existentes, recentes e mais antigos, que tão cedo não terão um fim?

Este é também um documento capcioso. Dou como exemplo o primeiro parágrafo da página 12. Cito: “Outro risco externo, com implicações internas negativas, prende-se com a possibilidade de aumentos adicionais do preço do petróleo, em resultado da continuação das tensões geopolíticas no Médio Oriente e Norte de África e, em alguns países da América Latina (como a Venezuela). Acresce que o recente conflito entre a Rússia e a Ucrânia tem pressionado o preço da energia e o seu fornecimento aos países do centro da Europa, designadamente do gás natural, criando maior incerteza na evolução dos preços destes produtos. Deve-se referir que este facto pode, contudo, constituir um risco positivo para a economia portuguesa que, fazendo uso das suas infraestruturas, poderá suprir, em parte, as necessidades energéticas dos países do centro e norte da Europa”. Ora, por um lado, considera uma redução substancial do preço do petróleo (de que continuamos a ser tão dependentes), por outro, é digno de ser considerado e mencionado como risco (que outros, omissos, haverá??) o inverso. Até me parece sensato, sim senhor, mas daí a considerar que essa desvantagem pode ser compensada por virmos a ser um fornecedor deste e doutros bens à Europa, desde a Espanha até à Noruega, é de uma enorme demagogia. Temos capacidade para levar petróleo e os seus derivados, por via férrea, de Sines até ao Centro da Europa? Temos gasodutos que nos liguem à Suécia? E que infra-estruturas já concebemos para levar o gás natural existente em tão grande quantidade na zona de Alcobaça a outros destinos? Nada, não existe nada senão projectos no interior de alguma gaveta.

Quanto à evolução da relação entre o euro e o dólar, estima-se que esta será, em 2018, de 1 para 1,45. Ora, se tal acontecer, não me parecem críveis as estimativas para as importações e exportações portuguesas e europeias. Na passada semana, questionei, numa conferência sobre competitividade e emprego, uma eurodeputada, economista e professora da Faculdade de Economia do Porto, se um euro demasiado forte face ao dólar não era mais um factor de divergência entre Portugal e a Europa. Fiquei satisfeito por ver a minha opinião ser partilhada pela senhora. É que a Alemanha importa e exporta maioritariamente para a Europa, transaccionando em euros. Portugal tem relações comerciais em maior volume com nações de África e da América latina, que têm as suas moedas indexadas ao dólar e/ou sem relação cambial directa com o Euro. Ora, com um euro mais forte, esses países terão que pagar mais pelos produtos e bens portugueses, o que significa que é expectável que as nossas exportações invertam o sentido com que têm evoluído.

Deixa-me também inquieto o pacote de medidas anunciado, nomeadamente no que diz respeito ao IVA e à TSU. Saúdo a reposição de rendimento aos funcionários públicos e aos pensionistas, mas o aumento do IVA irá afectar todos os portugueses, sem excepção. E, se pode ser verdade que alguns preços não serão alterados - os restaurantes, principalmente, estou certo que manterão os preços ao consumidor, mas o aumento do IVA será pago de outra forma, seja em mais desemprego, na falta de conforto no espaço ou na qualidade dos produtos –, a maior parte fará automaticamente a operação de multiplicação: as facturas da electricidade, do gás, da mercearia serão afectadas.

A juntar a esta injustiça, também a falta de equidade é reiterada. Uma conta rápida: com as medidas anunciadas na conferência de imprensa de apresentação do DEO, uma pensão de 1 000 € brutos passa a descontar (duradouramente em vez de transitoriamente) 20 € em vez de 35 € (menos 15 €); uma pensão de 3 500 Euros passa a descontar 122,50 € em vez de 350 € (menos 222,50 €). Ora, a poupança do primeiro não lhe permitirá, certamente, pagar a factura mensal de electricidade da sua habitação; já o segundo dificilmente terá uma factura de valor superior a essa poupança. Onde está a equidade, onde está a distribuição equitativa do esforço de consolidação das finanças públicas?

Este DEO não consegue disfarçar o odor a injustiça, insensatez e irresponsabilidade que tem exalado deste Governo. Mas, pelo menos, serviu para novamente nos dar uma nova edição do Dicionário da Língua Portuguesa. Depois da alteração de significado de “irrevogável”, temos agora novos significados para “transitório” e “abolido”.

Relativamente à saída do programa de resgate que agora se conclui, ofende-me vê-la ser considerada como limpa. Por várias razões. Em primeiro lugar, não é verdade que saída limpa seja sinónimo de sermos financeiramente donos do nosso destino: 1) continuaremos a ter missões de fiscalização regulares (em menor número, é certo, mas regulares) durante, pelo menos, quinze ou vinte anos; 2) enquanto os outros Estados-membros, de acordo com o PEC, poderão apresentar um défice de 3% relativamente ao seu PIB anual, Portugal estará limitado, pelo memorando de entendimento, a um défice de 2,5%. Ou seja, é solicitado a um português que percorra a mesma distância em menos tempo pelas colinas de Lisboa que um alemão na plana urbe de Berlim.

Em segundo lugar, a saída limpa não foi adoptada por vontade do nosso Governo; foi imposta por outros Estados-membro. Ver o nosso Governo congratular-se com essa decisão é a mesma coisa que uma equipa congratular-se com uma vitória por falta de comparência do adversário. A verdade é que o Governo português pretendia a rede de um programa cautelar, seja ele o que for, mas as garantias, os colaterais exigidos deveriam ser de uma dimensão difícil de imaginarmos. E se as garantias exigidas são elevadas, é sinal que a credibilidade para cumprir compromissos no futuro é reduzida. Assim sendo, o que será que nos é ocultado?

Em terceiro lugar, afirmar que o PAEF foi cumprido na íntegra é, novamente, iludir os portugueses. O programa viu as suas metas alteradas, sendo estas flexibilizadas. Foram-no muito justamente, quanto a mim, mas foram-no. E as medidas nele inscritas? Estas nunca foram claras, havendo diversas discussões entre os partidos que o assinaram sobre se determinada medida estava prevista ou não.


Não é fácil lavar Portugal. É verdade que os portugueses o merecem, mas não é fácil. Não sendo possível, de um dia para o outro, empreender tal tarefa, é preciso encontrar bons técnicos de limpeza e começar por afugentar as moscas. Depois, eu sugiro àqueles que entrem munidos de um melhor instrumento que elimine primeiro o fedor exalante.